O EXEMPLO FAZ A DIFERENÇA
- Marcos Brito Psicólogo
- 3 de ago. de 2020
- 3 min de leitura

"As palavras ensinam, mas os exemplos arrastam.” Este é um antigo proverbio atribuído a Confúcio, o qual se aplica nas nossas atitudes quando somos referência para aqueles que nos cercam. Há muito tempo observo minhas condutas, porém desde que experienciei uma situação com um dos meus filhos, isto se intensificou e confesso o quanto me surpreendi.
Em um passado recente comecei a ensinar um dos meus filhos a dirigir automóvel. Durante o processo, quando ele se sentava no banco do motorista, eu questionava, estamos prontos? As primeiras respostas eram sim, então eu pontuava, claro que não. Explicava algumas regras antes de dar a partida no carro, solicitando que ele checasse e as praticasse, isto se repetiu muitas vezes, mesmo ele usando-as. O tempo foi passando e uma regra que sempre o lembrava era a utilização da seta, mesmo quando fosse em local onde não existissem outros veículos.
Um certo dia ele me pediu carona, eu estava no limite do horário para atender um paciente, mas disse que sim. Durante o trajeto, por algumas vezes, se fez necessário sinalizar com a seta e eu não o fiz. Percebi que ele me observava com muita atenção, então quando chegamos no destino ele falou em tom risonho: “meu pai, precisamos atenção com a sinalização”. Eu na hora fiquei confuso, mas aquelas palavras ficaram se repetindo durante o dia no meu pensamento. À noite, o questionei e o mesmo relatou sobre a minha falta. Aquilo caiu como uma bomba para mim e constatei que em alguns momentos eu falho com meus exemplos e nem percebo. Quais outras coisas eu solicitava e não as praticava?
Com tal situação, a ideia não é enaltecer o sentimento de culpa e nem buscar a perfeição, mas observar que tipo de exemplo se tem no cotidiano. Em uma das áreas que atuo, a Dependência Química, alguns familiares se queixam sobre a conduta de quem está na situação de uso e, como forma de defesa, relatam que no núcleo familiar nunca existiu coisa do gênero. Claro que não é fácil enxergar algumas situações, pois as limitações em perceber determinadas atitudes, em um modo geral, necessita de autocrítica. No exemplo citado, o ponto a ser observado não é a utilização da substância, mas como se aprendeu a encara as adversidades da vida e tendo como escolha o uso, seja lá do que for.
“O que você faz fala tão alto, que não consigo ouvir o que você diz.” Este pensamento é do filósofo e escritor americano, Ralph Waldo Emerson. Ações falam muito mais de nós mesmos do que nossas palavras.
Com as palavras articulam-se por conveniência, por convenções e podem ser muito bem disfarçadas por força de nossa vontade, isto é, nem sempre contarão a verdade. A maioria das ações mostram o que há em nossa alma, nossa índole, nossos valores.
Francisco de Assis em uma de suas pregações, afirmou: “A paz proclamada por vós com palavras deve habitar de modo mais abundante em vossos corações.” Isso significa que precisamos vivenciar algo para que nossas palavras e opiniões tenham peso. É a chamada autoridade moral.
Ela tem um efeito intenso na educação dos filhos. Esses identificam, nos genitores, o mesmo comportamento que estão exigindo deles. Caso não encontrem essa referência, dificilmente seguirão as recomendações educacionais. Eles poderão até obedecer, mas por medo, por domínio da força, naquele momento, porém isto pode não perdurar. Tão logo se libertem dos pais ou desenvolvam uma independência maior, voltarão a repetir as mesmas atitudes do passado que pareciam confusas.
A família tem uma responsabilidade intensa na formação do caráter dos filhos, pois é ali que são vividas as primeiras lições de amor, respeito, responsabilidade, ética, dignidade, comprometimento que eles levarão quando decidirem seguir seu caminho na busca da realização dos seus anseios. As lições apreendidas no seio familiar os acompanharão pelo resto de suas vidas.
Talvez o pensamento, após ler este texto, caso exista uma dúvida e/ou culpa, seja, não tem mais jeito? Claro que existem possibilidades de mudanças, mas para isto é necessário um trabalho de autoconhecimento e ressignificar as situações.
Tudo que se faz na Vida está certo, apenas temos de ter consciência que para tudo que se faz existe uma consequência e desta forma assumir o que acontece após nossos atos, sejam eles quais forem.
Hoje, a atenção para com meus atos é intensa e ainda derrapo nas curvas. Entretanto, quando me apercebo com tais acontecimentos, busco formas de dar respostas diferentes e corrigir o curso. Mais uma vez repito, o propósito não é procurar culpados, ou se colocar em determinados padrões ditos corretos, mas observar quais os tipos de exemplo que eu ofereço para que façam a diferença, não apenas nos seres ao meu redor, mas, principalmente, no meu modo de ser e agir para que as minhas teorias tenham a força e convicção necessárias quando as oferto para os que me escutam com atenção.
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